"Agora sim, já há um cantinho de África no Alentejo"
Chamaram-lhe "louco" quando disse aos amigos que ia trazer África para um terreno no Alentejo. Mais. Que ia fazer disso um negócio. E foi precisa alguma loucura, ou risco, para - sem sequer perceber de animais selvagens ou exóticos - Francisco Simões de Almeida lançar-se ao projecto do Badoca Safari Park, o primeiro parque natural do género a abrir portas em Portugal.
O alcatrão continua até Santiago do Cacém, mas as indicações de madeira mandam virar para a terra batida. A terra, a vegetação e os animais. Foi isso, a natureza, que despertou a atenção de Francisco, 47 anos, quando há treze leu num jornal a ideia pioneira de um moçambicano de nome Rui Quadros. "Existia o terreno, uma pessoa cheia de ideias, mas sem meios para concretizá-las, e uma burocracia enorme." Francisco foi ter com Rui Quadros e adoptou o conceito: trazer um pouco de África a um país de retornados. Com tempo, porque o hotel onde trabalhava fora vendido, e rendido ao espaço na freguesia de Santo André, Santiago do Cacém, a burocracia não o travou.
"Não tenho formação em zootecnia, nem veterinária, nem tinha qualquer fascínio por África", conta. Hoje, sabe os nomes das 45 espécies que tem no parque e conhece as características dos quase 300 animais. Mas o caminho não foi fácil.
Um ano depois de visitar o terreno pela primeira vez, conseguiu arrendá-lo ao Ministério das Finanças. Abriu portas nessa Primavera, já embalado com reportagens na comunicação social que falavam do espaço como um pedaço de África em pleno Alentejo. Naquele "pedaço" ainda só havia meia-dúzia de veados, uma cabana que vendia bebidas e pouco mais. Mas a curiosidade trouxe-lhe 25 mil visitantes. O pior foi Outubro. "A minha grande desilusão." Esqueceu-se que o negócio era sazonal. Ninguém gosta de passear com lama e chuva. "Havia dias em que não entrava um único visitante." Optou por abrir apenas com marcações enquanto tentava descobrir formas de atrair as pessoas.
"Não sabia como comprar animais!". Tentou ajuda com o Jardim Zoológico mas em vão. Um dia passou a Ponte Vasco da Gama e avistou um circo. "Parei e perguntei ao responsável como é que eu podia adquirir animais selvagens." A resposta na altura foi vaga mas, dias depois, chegava num atrelado ao Badoca Park: quatro tigres. Os animais estavam a ficar agressivos e já não serviam para tarefas circenses. A prenda custou-lhe quinze dias de sono.
"Tive que esconder os animais e fiquei sem saber o que fazer!" Do passo seguinte nasceram novas dificuldade. "Tentei informar-me das condições exigidas para ter estes animais, que cercas devia comprar, quais as medidas de segurança..." Qual não foi o seu espanto quando percebeu que não havia legislação - nem sequer profissionais do ramo - para o efeito. A lei foi entretanto adaptada e a sua inscrição em associações de parques congéneres permitiu-lhe aumentar o número de espécies no parque. "Se um parque natural espanhol tiver exemplares a mais de uma espécie e eu tiver condições, tenho que os aceitar. Se precisarem de um reprodutor e eu tiver, tenho que o mandar para lá."
A ideia é que os animais vivam num máximo de bem-estar e possam reproduzir-se. Factor importante quando se fala em espécies em vias de extinção. O parque foi crescendo e com ele os serviços prestados: a loja de recordações, a fotografia junto dos animais, o restaurante com vista para a savana. Este ano houve 90 mil visitantes.
O cenário idílico já foi palco de telenovela - o que aumentou o número de visitantes - e de um catálogo de lançamento da Nissan. Em épocas baixas aposta-se em pedagogia, com visitas de escolas. Planeiam-se agora estágios pagos para veterinários. Novas ideias são bem acolhidas.